Bar do Justo


Eu, os amigos e a Fórmula 1

Tinha prometido comentar mais na ganga. É assim (como agora se diz):
Lisboa, 21 de Junho de 1981. As férias grandes acabavam de começar e naquele mês fizera já tanto calor que Lisboa chegara aos 43º. Era um domingo e o 1º canal ia dar o G.P. de Espanha. Não devia ter nada melhor para me entreter fiquei a ver a corrida. Foi com pouco interesse, já que eu nesse ano tinha assistido só ao atropelamento de um mecânico em Zolder. Não sabia quem ia à frente no campeonato nem ligava nada ao Prost. Sabia era que o detestável Alan Jones tinha o nº 1 porque fora campeão em 1980. E se sabia do Piquet, do Reutemann, do Villeneuve ou do Laffite era por ouvir havia anos os nomes deles na televisão.
Voltando a Jarama. O mítico Gilles Villeneuve ganhou num Ferrari turbo, e os quatro primeiros chegaram coladinhos à meta; do 1º ao 4º couberam todos no mesmo segundo. - Caso vos interesse, podereis ver o resumo no Iutube. Está lá a temporada de 1981 inteirinha. - Como foi emocionante ver a corrida decidi que dali em diante ia querer ver todos os Grandes Prémios. Comecei a falar da Fórmula 1 lá na rua a ver se havia mais quem gostasse e a ver se descobria as marcas e os pilotos todos. Procurava ser um daqueles putos absurdamente espertos em assuntos parvos.
Deu-se o caso, porém, que passados quinze dias, em 7 de Julho, fui para a praia com o pai e a mãe e perdi o G.P. de França. No fim do telejornal dessa noite soube quem ganhou - antes do Antímio de Azevedo ou o Costa Alves darem o tempo, é certo, mas só após todas notícias nacionais, internacionais e do futebol. E quando vi o Alain Prost com os dois braços no ar no Renault turbo passando pela bandeira de xadrez decidi que era o meu favorito. E tal ficou.
O G.P. de Inglaterra eu vi. Ganhou o John Watson - o galinho, porque na caderneta das Figurini Pannini o cromo dele tinha o cabelo espetado como a crista do galo. Na quinta-feira a seguir descobri o Auto-Sport no Manelinho jornaleiro; tinha o bonito McLaren vermelho e branco a cores na primeira página e lá dentro uma reportagem de três páginas sobre a corrida. Aquilo dava dez voltas de avanço à mísera meia coluna que «A Bola» esmolava à Fórmula 1. Vinha lá tudo; até falava daquela triste equipa Theodore do Brian Henton e do Derek Warwick que nunca se classificavam para a grelha de partida. Comecei a tornar-me estupidamente versado em Fórmula 1 e o que era pior é que me orgulhava disso. O resultado é este que vedes: a memória cheia de palermice. Depois do G.P. da Alemanha e da finta do detestável Alan Jones pelo meio do René Arnoux e do Prost, e apesar da desilusão deste último, esperei ansiosamente pela quinta-feira, o dia do Auto-Sport. Exibia-o eu da janela das traseiras, muito ufano, ao confrade Brooks, quando fui confrontado pelo outro confrade lá no cimo do bar:
- Eu tambem tenho um jornal. É o «Motor»; sai às quartas. Olha aqui!
Estiquei-me pela janela e lá estava o Piquet, o vencedor de Hockenheim em grande na 1ª página. Senti-me como o Prost, que só era rápido nas qualificações para a grelha...
No fim, apesar da náusea, o Piquet foi mesmo campeão.


P.S.: vendo (revendo) o ano de 1981 como eu vi, o ano de 82 é pior que ensosso. E depois cada vez pior.


6 Responses to “Eu, os amigos e a Fórmula 1”

  1. # Anonymous Anónimo

    Grandíssimo texto. Li-o em deleite. És o Mestre.

    Abraço  

  2. # Anonymous Anónimo

    Acabei de alterá-lo, lê de novo, eh! eh!. 'Tava a reinar, foi só emendar un erros. Cumpts.  

  3. # Anonymous Anónimo

    Faltou agradecer. Obrigado! Deu-me gozo escrever esta recordação. Estive a rever a temporada de 1981 até tarde. Magníficas memórias.
    Abraços  

  4. # Anonymous Anónimo

    Há uns meses que tenho na minha conta do YouTube toda essa época de 81. Curiosamente, essa é mesmo a única época que o You Tube tem completa corrida a corrida.

    Talvez não seja só coincidência. Talvez tenha mesmo sido a época. Para nós, com certeza que o foi.

    Passe o delico-doce desta tirada, sei que te tenho um agradecimento a fazer.

    Agora, para fechar, vai uma corridinha de carros de esferas? Eu 'tou lá.

    Abraço  

  5. # Anonymous Anónimo

    Que saudades que eu tenho de ver os carros, como eu dizia na altura, "coladinhos com a minha cola de 43 escudos da UHU"...
    Olhando para hoje onde está 30 % da emoção de então?
    Caríssimo Port... um texto e pêras
    Abraços Waickianos.  

  6. # Anonymous Anónimo

    Foi a época, sim. Obrigado Waick!
    Abraço  

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