Bar do Justo


Quelho

Porra, há coisas que eu não admito. Quer-se dizer, então não é que começo aqui a ver registos pouco abonatórios sobre o grande Quelho?

Eu quero aqui recordar aos meus companheiros de tasca (qual confrades, qual carapuça) que isto de só demonstrarem e relatarem a história do hóquei não-patinado apenas pelos livros de registos das finais dos campeonatos tem muito que se lhe diga.

Recordo aqui que eu, Quelho de nome artístico, não teve esse célebre enorme stick verde (originário dumas prateleiras velhas da loja do meu pai) durante toda a história do hóquei da Capitão Roby. O meu primeiro stick era barrocamente trabalhado e cortado com serra tico-tico, na black & decker workmate do meu pai. E meus caros leitores, relembro que com esse mesmo stick fiz memoráveis golos, daqueles de passar por detrás das balizas, rematando depois por entre o meu braço direito e a minha ilharga, passando a bola pelo buraco da agulha.

E não só. Bem sei que não tinha a habilidade do Burrié, quer à baliza (fazendo as tais defesas com o pé levantado, à Ramalhete) quer no ataque (o gajo era o nosso Leste, porra. até tinha cabelo à Leste e tudo), mas são uns malandros em terem desprezado os anos pré-stick "à Quelho".

Aliás, foi esse mesmo stick que teve o seu final infeliz, num jogo em que andei à bulha com o Port, a quem, por vingança, prometi reter-lhe ad aeternum o single do Tainted Love. Ora acontece que na marcação dum livre, o Quelim colocou-se de forma estratégica, a fim de impedir o meu remate. Erro meu, levou com o stick na testa. Como paga por esse gesto mais fatela mas inteiramente involuntário (juro, pá), foi o famigerado stick enxovalhadamente partido e atirado para aquela sargeta localizada de fronte do Martins (a propósito, oh Seth, os primeiros caixotes foram roubados da Mercearia do Albino, pá. o gajo tinha-os escondido, numa escada ao lado do seu estabelecimento que lhe servia de armazém).

Ora pior do que essa humilhação, foi logo de seguida ter ouvido as portas de madeira da escada do meu prédio a baterem com estrondo, anunciando a chegada do Port Portridge. O gajo, tinha ido a minha casa, resgatar o seu Tainted Love:

- Ó Quelho, lembraste de me dizeres que irias riscar o meu disco dos Soft Cell? Olha, ele aqui tão lindinho. Incha, cabrão!

2 Responses to “Quelho”

  1. # Anonymous Anónimo

    Ena! Que grande história.
    Parece que devo aqui algumas desculpas por haver esquicido o Quelho e o stick verde (e embora não seja afirmado presumo que o tenha eu quebrado, verdade?). Tal é a amnésia que não consigo ainda agora, depois de repetidas leituras, mais que uma nevoenta lembrança deste assunto. Ainda assim, só da parte final. Tenho ideia que andámos azedos naquele Verão e por alturas de Setembro fizemos as pazes.
    Foi isto em 1982, não foi? Não lamento haver-me esquecido de quase tudo.
    Um forte abraço, Quelho,
    Port  

  2. # Anonymous Anónimo

    Meu querido Port, como diz o Fiuza lá de Barcelos, a verdade tem de ser resposta, quem partiu o stique foi o Quelim, em represália por ter acertado com ele na sua testa. O que se passou é que ele decidiu colocá-lo entre o passeio e o alcatrão e trás! partiu-o em pedaços. Fiquei piurso.

    O que me enxovalhou ainda mais foi tu teres começado a gozar comigo sobre esse acontecimento.

    A coisa azedou de Setembro até Dezembro. E as pazes ficaram feitas já bem perto do Natal. É que tinhas comprado o Lexicon of Love e eu não podia perder essa oportunidade de ouvir tão bom registo fonográfico.

    Aquele abraço, campeão!

    Dar  

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